PARA CORRER, SÓ PRECISO TREINAR A PRÓPRIA CORRIDA?
No ultimo texto (Treinamento pliométrico ou treinamento de força) fizemos uma afirmação que aparentemente parece bem óbvia: “Para melhorar a corrida tem-se que treinar corrida” , mas mostramos que efetuar treinos de força e pliometria podem auxiliar na otimização do gasto energético durante a corrida, em indivíduos de meia idade. Isto leva a uma melhor condição para provas de maior duração, principalmente as que depende de um grande consumo energético, como as provas de meia maratonas, maratonas e ultramaratonas.
Na pesquisa de Rodriguez-Barbeiro e colaboradores (2023), dois grupos de corredores tiveram seus treinos monitorados durante 8 semanas, sendo 12 atletas bem treinados (ABT) com tempo médio de 32’54” nos 10 km e média de 6 dias de treino por semana, e mais 12 corredores recreacionais com uma performance média de 38’ 29’’ na mesma distância e média de 4,5 dias de treinamento por semana.
Todos eles tinham o treino prescrito pelos mesmos treinadores e tinham como caracteristica semanal um sessão de treinamento de força, 70 a 75% do volume treino de corrida sendo realizado na zona 1 de treinamento, de 11 a 17% do volume de treinamento sendo realizado em Z2 e Z3. Todo o controle do treino foi realizado por acompanhamento através dos aplicativos da Garmin e Strava.
Após 8 semanas de acompanhamento, ao comparar os testes realizados antes e depois deste periodo, observou-se melhora da economia de corrida em 5% em ambos os grupos, com a diminuição do custo energético, após as 8 semanas de treinamento em ambos os grupos.

Alem disso, os autores afirmam que a melhora na endurance são primariamente atribuidas a fatores fisiológicos como aumento da produção de energia e de sua utilização, ao invés dos fatores biomecânicos. Parte destas evoluções obtidas são explicadas pelo aumento da capacidade de extração do oxigênio inspirado (ABT) e aumento da capacidade oxidativa do músculo (Recreacionais). Isso permite a produção da mesma quantidade de energia com a utilização de menos oxigênio na cadeia respiratória em corridas submáximas. No caso deste estudo, o grupo de corredores recreacionais otimizou a capacidade de utilização da gordura como fonte energia nas corridas submáximas, demonstrado pela redução da razão de troca respiratória. E o grupo de corredores bem treinados melhorou sua capacidade de extração de oxigênio do ar inspirado demonstrado pelo custo de oxigênio.

Do ponto de vista biomecânico, houve um aumento de 3% no tempo de contato no grupo de corredores recreacionais, além de uma diminuição da rigidez dos membros inferiores. O tempo de contato tem sido identificado com uma variável importante, pois esta variável pode ser um indicativo de uma maior condição de frenagem, principalmente em uma corrida em retropé. Mas ao ter seu tempo encurtado, pode significar uma maior velocidade de transição entre fase de frenagem e propulsão.
Outro fator que contribui para maior aproveitamento de energia do componente elástico da musculatura é a rigidez dos membros inferiores. Neste estudo, somente os atletas recreacionais tiveram uma diminuição desta rigidez. Isso tornou-os menos favoráveis à economia de corrida, pois uma rigidez mais baixa demonstra uma menor capacidade de estocar energia elástica. Neste caso, este seria o fator para afirmação anterior de que as maiores adaptações tenham ocorrido no componente fisiológico para a melhora da economia de corrida, e não no componente biomecânico. Lembrando que o estímulo neuromuscular (treinamento de força e pliométrico), nestas oito semanas, aconteceu somente uma vez na semana. Neste momento da periodização, talvez esta frequencia de estímulos não seja favorável à melhor adaptação dos componentes neuromusculares, como demonstrado na postagem anterior (Treinamento pliométrico ou treinamento de força), onde os estímulos ocorriam em 2 vezes na semana.
Enfim, neste caso 8 semanas de treinamento de endurance foram responsáveis pela mehora da economia de corrida em 5% em ambos os grupos, onde estas adaptações foram em sua maioria no ambito fisiológico.
Referência Bibliográfica:
RODRIGUEZ-BARBERO, Sergio et al. Effects of a regular endurance training program on running economy and biomechanics in runners. International Journal of Sports Medicine, v. 44, n. 14, p. 1059-1066, 2023.