O SMARTWATCH QUE UTILIZA PARA CORRER PODE AUMENTAR O RISCO DE LESÃO!!
Parece irreal mas seu smartwatch pode mesmo aumentar o risco de lesão? Qual a relação entre o uso destes gadgets e as lesões?
Nos últimos anos, a corrida explodiu em popularidade, e junto com ela, o uso de tecnologias vestíveis como smartwatches e aplicativos de fitness. Essas ferramentas prometem monitorar nosso desempenho, nos motivar e até mesmo nos ajudar a treinar de forma mais inteligente. Mas será que toda essa tecnologia realmente torna a nossa prática da corrida mais segura? Ou o uso constante desses gadgets pode, paradoxalmente, aumentar o risco de lesões?
O estudo de Chowdhary e sua equipe, publicado na revista Healthcare (2025), mergulhou nessa questão, investigando a relação entre o uso de tecnologia relacionada à corrida (RRT) e a ocorrência de lesões em corredores de longa distância, tanto recreacionais quanto de elite.
Para explorar essa complexa relação, os pesquisadores conduziram um estudo quantitativo e transversal, utilizando um questionário online. Eles recrutaram 282 corredores adultos, com uma idade média de 37,4 anos, que corriam distâncias maiores que 10 km. O questionário abrangia diversos aspectos, incluindo dados demográficos, hábitos de corrida, o tipo e a frequência do uso de RRT, as métricas monitoradas e o histórico de lesões relacionadas à corrida (RRI) nos 12 meses anteriores.
A definição de lesão relacionada à corrida utilizada no estudo foi bastante prática: qualquer lesão sofrida durante a corrida que causasse uma modificação na distância, ritmo ou frequência do treino, ou que levasse o corredor a parar de correr por 7 dias ou 3 sessões de treino consecutivas. Os participantes foram classificados como usuários de RRT se utilizassem a tecnologia em algum grau durante suas corridas, e a análise estatística buscou identificar correlações entre o uso da tecnologia e a incidência de lesões, controlando para outras variáveis como idade e volume de treino.
Os resultados do estudo confirmaram a alta adoção da tecnologia, pois cerca de 90% dos participantes utilizavam RRT durante suas corridas, sendo smartwatches como Garmin e Apple Watch os mais populares. Em relação às lesões, 37% dos corredores relataram ter sofrido uma lesão relacionada à corrida nos 12 meses anteriores, com joelho, pé e parte inferior da perna sendo as áreas mais frequentemente afetadas. O achado mais notável foi que, ao comparar todos os corredores, aqueles que usavam RRT eram mais propensos a ter sofrido uma lesão do que aqueles que não usavam nenhuma tecnologia.
A discussão dos autores aborda essa correlação intrigante. Embora a tecnologia seja vista como uma ferramenta para otimizar o treino e prevenir lesões, o estudo sugere que o simples uso pode estar associado a um maior risco. Uma possível explicação levantada é que a disponibilidade constante de métricas pode levar corredores, especialmente os recreacionais e menos experientes, a aumentar abruptamente suas cargas de treino (distância, intensidade) com base nos dados, sem a orientação adequada de um profissional. Esse aumento rápido é um fator de risco conhecido para lesões por overuse.
Outro ponto importante destacado na discussão é a influência psicológica da tecnologia. Recursos como compartilhamento de dados, placares e desafios em aplicativos podem fomentar a comparação social e, em alguns casos, levar a comportamentos obsessivos ou padrões de exercício viciantes. A pressão para manter o ritmo ou a distância registrada pela tecnologia, ou para competir virtualmente com outros, pode levar a treinos excessivos e recuperação insuficiente, aumentando a vulnerabilidade a lesões.
No entanto, o estudo apresenta uma nuance importante, demonstrando que aqueles corredores que utilizavam as métricas obtidas da RRT para guiar ativamente suas decisões de treino não apresentaram um risco maior de lesão. Isso sugere que o problema pode não ser a tecnologia em si, mas como ela é utilizada. Corredores que interpretam os dados de forma inteligente, talvez com a ajuda de um técnico ou fisioterapeuta, e ajustam seu treino de maneira correta, podem mitigar o risco associado ao simples monitoramento. O estudo também observou que corredores de elite eram menos propensos a se lesionar do que os recreacionais, o que pode estar relacionado à sua maior experiência, orientação profissional e capacidade de interpretar as percepções do próprio corpo.
Em conclusão, o estudo de Chowdhary e colaboradores lança uma luz importante sobre a relação complexa entre a tecnologia de corrida e as lesões. Embora o uso de RRT seja generalizado, a simples utilização parece estar associada a um risco aumentado de lesões em corredores de longa distância. No entanto, a forma como os dados são utilizados faz diferença: usar as métricas para tomar decisõesadequadas sobre o treino pode não aumentar esse risco. Para corredores, técnicos e profissionais de saúde, isso reforça a necessidade de educação sobre o uso inteligente da tecnologia, integrando os dados com a percepção corporal e a orientação profissional para maximizar os benefícios da RRT na otimização do desempenho e, crucialmente, na prevenção de lesões.
Referência Bibliográfica:
Chowdhary, K., Crockett, Z., Chua, J., & Soo Hoo, J. (2024). Exploring the Relationship between Running-Related Technology Use and Running-Related Injuries: A Cross-Sectional Study of Recreational and Elite Long-Distance Runners. Healthcare, 12(6), 642.
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