EXPERIÊNCIA NA CORRIDA: QUANTO DE IMPORTÂNCIA ELA TEM NA SUA PRÁTICA?
A Experiência é um fator motivacional ou de proteção ao corredor? Ou ambos?
Como diz uma tradicional música sertaneja: “Não me interessa se ela é coroa… Panela velha é que faz comida boa!!”, mas isso também diria respeito aos corredores? Muitas vezes se classificam os corredores pelo tempo de prática da corrida que tem, normalmente em anos. Poderíamos ainda classificar o nivel de experiência por provas em que participou, pela frequência em que corre na semana, e até mesmo pelo volume semanal em quilômetros (Roveri et al, 2017).
Para se ter excelência no que faz espera-se que a execução de uma determinada tarefa seja realizada inúmeras vezes. Com isso consegue-se constância, precisão e automatismo. Estas três propriedades de um praticante experiente permitem com que a sua tarefa seja feita de uma forma mais próxima à perfeição.
Quando mensuramos fatores como a experiência e relacionamos com a técnica de corrida, pode-se perceber que muitas vezes, indivíduos com pouca prática demonstram pouca consistência em seus movimentos mesmo estes sendo movimentos cíclicos, onde a variabilidade de movimentos, teoricamente é baixa.
Ao comparar dois atletas recreacionais em termos de forma de interação do pé com o solo durante a corrida e a sua repetibilidade, percebe-se a diferença na variabilidade na forma desta interação (Fig. 1)
Fig. 1 - a) padrão de pisada de @guinishiyama e b) padrão de pisada de @vtessutti, ambos a 15 km/h com tênis sem placa de carbono.
Obviamente que existe uma forma diferente de tocar ao solo de cada corredor, e isto não está relcionado à experiência. Mas a análise da consistência que abordamos anteriormente está relacionada à largura entre as colunas (Fig. 1). Os desenhos obtidos pela utilização de uma Unidade Inercial de Movimento, demonstram uma menor consistência, com a maior variabilidade entre um passo e outro no corredor, cuja a pratica foi iniciada recentemente (a). Contrariamente, uma menor largura entre as linhas paralelas demonstra que já está determinado um padrão de movimento que se repete com uma grande consistência (b) no corredor com maior experiência.
A inconsistência em qualquer terefa pode levar a condições de utilização inadequada dos tecidos, aumentando principalmente o gasto energético da tarefa. Uma das grandes adaptações de indivíduos experientes à suas tarefas é realizá-las com baixo gasto energético, isso permite uma maior performance.
Agora, levando-se em cosideração aspectos motivacionais, Knechtle e colaboradores (2023), em uma pesquisa realizada com 231 corredores, demonstraram haver semelhança entre os fatores motivacionais que levam à participação em qualquer tipo de prova analisado (Fig. 2). Além disso, maratonistas e ultramaratonistas apresentaram mais anos de experiência que os corredores de 10km, tendo completado mais provas nos dois anos anteriores à pesquisa.
Fig. 2 - Distribuição percentual dos fatores motiovacionais dentre os participantes de cada tipo de prova (10 km, MM - meia maratona, M/UM - maratona e ultramaratona - adaptado de Knechtle e colaboradores, 2023).
Outra diferença levantada pelos autores foi a melhor performance dos maratonistas e ultramaratonistas nas provas de meia maratona comparada aos dois outros grupos, e esta diferença ainda se manteve quando se analisou de forma multifatorial, levando-se em consideração os anos de experiência sem interrupção na corrida, e a idade com que realizou uma prova pela primeira vez.
Sendo assim, estudos como este demonstram que para galgar objetivos maiores dentro da corrida há a necessidade de maior envolvimento com a mesma, onde a sua prática constante leva a uma condição de progressão mais segura. Portanto, caso tenha iniciado recentemente, pense que seu hábito deve ser planejado ao longo da vida, e não uma prática fulgás para somente impressionar seu grupo social.
Referências:
KNECHTLE, Beat et al. Differences in race history by distance of recreational endurance runners from The NURMI Study (Step 2). Scientific Reports, v. 13, n. 1, p. 18083, 2023.
ROVERI, Maria Isabel et al. Assessing experience in the deliberate practice of running using a fuzzy decision-support system. PloS one, v. 12, n. 8, p. e0183389, 2017.