EXISTE DIFERENÇA NA TÉCNICA DE CORRIDA ENTRE O CORREDOR INICIANTE E O EXPERIENTE?
No post passado (Para iniciar a correr, colocar um shorts e tênis é o suficiente?) comentamos sobre a importância do inicio da corrida sob supervisão pensando na formação de uma boa técnica de corrida. Hoje abordaremos a questão do ponto de vista biomecânico, sobre as diferenças existentes entre estas duas populações de corredores.
Normalmente a classificação de experiência dos corredores se dá pelo número de anos em que o indivíduo pratica. E neste estudo que será abordado aqui não é diferente. Só abro um parênteses para citar um trabalho no qual participei junto com pesquisadores do Labimph- USP e de treinadores, onde acrescentamos outras variáveis para classificar a experiência desta população através do volume de treino e da frequência de treino, assim como os anos de prática e a participação em provas. Neste trabalho, de Roveri e colaboradores (2017), a correlação entre a ferramenta desenvolvida e a percepção dos treinadores para classificar o quantificar a experiência de corredores foi elevada. Portanto, já existe uma ferramenta que faz a classificação da experiência de corredores, tornando-a menos subjetiva, chegando até a quantifica-la em uma escala de 0 a 10.
Em outro trabalho, de Hafer e colaboradores (2019), onde a experiência foi considerada somente como os anos de prática de corrida, o objetivo do trabalho foi determinar se corredores com menos experiência tem uma coordenação entre os segmentos dos membros inferiores diferente, assim como, uma menor variabilidade de coordenação destes segmentos comparados aos corredores mais experientes.
A comparação foi realizada entre 20 corredores com mais de 10 anos de prática e 21 corredores com menos de 2 anos de prática. Foram comparadas a coordenação entre a coxa e a tíbia (canela) e a tíbia e o pé durante o fim da fase de voo, e o início, meio e fim da fase de apoio. Estas comparações são feitas com as medições dos ângulos destes segmentos entre eles, e posteriormente, uma outra técnica matemática, para determinar alguns valores que classificam a posição dos segmentos.
Corredores menos experientes tiveram menor variabilidade de coordenação entre a coxa e a tíbia, assim como entre a tíbia e o pé durante o início (toque do pé ao solo) e meio da fase de apoio (médio apoio). Lembrando que a diminuição desta variabilidade é a menor distribuição da carga através dos tecidos musculoesqueléticos (aumentando a concentração da carga em alguns tecidos) ou o aumento da carga acumulada nestes tecidos. Segundo os autores, esta menor variabilidade no toque do pé ao solo e no médio apoio para corredores menos experientes indicou a necessidade de uma pratica repetitiva para o desenvolvimento motor da corrida, particularmente, no aspecto relativo ao movimento que requer estabilidade contra as forças gravitacionais e o impacto. Como exemplo eles citam outro estudo que indicou que a síndrome patelofemural ocorreu exatamente nestas duas fases.
Por menores que possam parecer estas diferenças (diferenças de poucos graus em cada articulação), o grande problema das lesões, muitas vezes, é a repetitividade deste padrão, mesmo que com ângulos levemente diferentes de grupos mais experientes e isentos de lesão. A repetitividade de pequenas diferenças não lesionarão em uma corrida de 10k, mas muito provavelmente, na somatória de treinos e competições nesta condição.
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Referências Bibliográficas:
Roveri MI, Manoel EdJ, Onodera AN, Ortega NRS, Tessutti VD, Vilela E, et al. (2017) Assessing experience in the deliberate practice of running using a fuzzy decision-support system. PLoS ONE 12(8): e0183389. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0183389
Hafer, J. F., Peacock, J., Zernicke, R. F., & Agresta, C. E. (2019). Segment Coordination Variability Differs by Years of Running Experience. Medicine and science in sports and exercise, 51(7), 1438-1443.