ADAPTAÇÕES E RISCOS AO CORRER MARATONAS - Parte 3
Nesta terceira parte de análise do artigo de Braschler e colaboradores (2025) destacamos os prós e contras da participação na maratona com vistas no sistema renal.
Com o crescente interesse e participação em maratonas ao redor do mundo, torna-se essencial entender os profundos impactos fisiológicos desse rigoroso esporte, particularmente sobre o sistema renal, que desempenha um papel vital na manutenção do equilíbrio homeostático do corpo. Neste texto destaco o posicionamento dos autores deste importante artigo em relação ao impacto das maratonas sobre a função renal e as implicações para corredores em geral.
O exercício físico é, sem dúvida, uma componente crucial na estratégia terapêutica de pacientes com Doença Renal Crônica (DRC). Vários estudos indicam que a incorporação de atividade física moderada, além do treinamento de resistência como o realizado para maratonas, pode ter efeitos positivos sobre a progressão da doença. O exercício regular facilita a manipulação de fatores de risco e ajuda na estabilização de condições associadas.
Entendendo a positividade da corrida de longa duração esta provoca o retardo na Progressão da DRC segurando o avanço da DRC, levando a uma diminuição do declínio da taxa de filtração glomerular (eGFR). Em particular, pacientes que realizam mais de 150 minutos de exercício físico moderado por semana mostram um declínio 1,5 vezes mais lento na eGFR em comparação aos pacientes sedentários.
Mas por outro lado pode-se desenvolver lesões renais agudas, sendo este um risco durante as maratonas. Embora o exercício moderado seja benéfico, participar de maratonas extenuantes pode impor um enorme estresse ao sistema renal, resultando frequentemente em Lesão Renal Aguda (LRA). Estudos referem que a prevalência de LRA entre corredores de maratona pode variar de 40% a 82%, com cerca de 75% apresentando sinais de lesões tubulares agudas. Esse fenômeno implica em desafios significativos e requer atenção especial dos praticantes.
Perdas significativas de fluidos e a falha em reidratar adequadamente podem induzir uma LRA pré-renal. Estudos destacados pelo autores destacam a correlação entre maiores perdas de volume por suor e o desenvolvimento de LRA durante as corridas.
Durante o esforço intenso, parte do fluxo sanguíneo é redirecionado dos órgãos internos para os músculos. Essa redistribuição pode diminuir o débito cardíaco direcionado aos rins em até 25%, predispondo a um possível dano isquêmico tubular.
Sob tensão prolongada, os músculos liberam mioglobina em excesso, que pode originar uma nefropatia pigmentar (Rhabdomiólise Exacional) e, em última instância, a concomitância com a LRA.
Muitos corredores utilizam anti-inflamatórios não esteroidais (NSAIDs) durante as corridas, que são conhecidos por diminuir o fluxo sanguíneo renal e aumentar a elevação da creatinina e da uréia no soro. Tal incremento demonstra que os NSAIDs podem atuar como fator de risco adicional para LRA durante competições de longa distância.
O exercício intenso estimula a liberação de catecolaminas e o hormônio antidiurético (ADH), afetando a função renal e reduzindo a taxa de filtração glomerular (GFR) em até 50%. A ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona (RAAS) é também um mediador importante. Além disso, estudos apresentam aumento substancial nos biomarcadores renais durante e após maratonas, com creatinina sérica subindo em média 29 μmol/l, aproximadamente 40%. Níveis de cistatina C, um marcador muscular independente de função renal, foram vistos aumentando até 26%, indicando danos renais específicos.
Apesar dos riscos, a resolução completa desses aumentos em biomarcadores foi observada dentro de duas semanas pós-evento. Estratégias como corrida leve de baixo impacto 48 horas após a competição demonstraram promover a recuperação eficiente da LRA.
As competições de resistência frequentemente resultam em desequilíbrios de fluidos e eletrólitos, sendo a hiponatremia um dos mais significativos. Enquanto é um fenômeno multifatorial, os fatores causativos mais comuns incluem a ingestão excessiva de fluidos durante a corrida e ajustes inadequados no índice de massa corporal (IMC), somados ao impacto direto do exercício intenso.
Mesmo que frequentemente assintomática, a hiponatremia induzida por exercícios pode manifestar sintomas inespecíficos como náuseas e cefaleias. Em casos severos, edema pulmonar não cardiogênico e edema cerebral fatal são possíveis.
Variáveis ambientais, como as condições climáticas, afetam a incidência de distúrbios eletrolíticos. Elevadas temperaturas exteriores podem exacerbar o estado hiponatriêmico. Estratégias de prevenção incluem suplementação regular de sódio e a implantação de uma estratégia de hidratação bem avaliada e ajustada às necessidades individuais, minimizando riscos associados ao excesso de líquidos.
É imperativo que práticas seguras de hidratação e equilíbrio eletrolítico integrem a preparação de todos os maratonistas. O conhecimento tanto dos riscos diretos correlacinados ao exercício quanto dos ajustes necessários para competições prolongadas é, portanto, crucial.
Apesar dos inúmeros benefícios do exercício em pacientes com DRC, a prática de maratonas apresenta riscos significativos devido ao estresse renal. Existem áreas cinzas, especialmente relacionadas às implicações a longo prazo. Entender as repercussões contínuas de episódios de LRA e seu impacto na saúde renal futura necessitará de investigação detalhada e soluções alternativas.
Embora os estudos indiquem a fachada bem-sucedida de recuperação da função renal após maratonas, trata-se claramente de uma área que suscita mais pesquisas. Garante-se uma exploração personalizada de protocolos de treino e recuperação aos fãs das corridas de resistência para que os desafios de eventos dessa magnitude sejam equilibrados com segurança no critério da saúde geral, destacando os caminhos promissores para a preservação da função renal em atletas de elite.
Referência Bibliográfica:
Braschler, L., Nikolaidis, P.T., Thuany, M. et al. Physiology and Pathophysiology of Marathon Running: A narrative Review. Sports Med - Open 11, 10 (2025). https://doi.org/10.1186/s40798-025-00810-3