ADAPTAÇÕES E RISCOS AO CORRER MARATONAS - Parte 2
Quanto maior a distância percorrida maior a saúde acumulada? Existe essa relação direta entre quilômetros percorridos e saúde?
Dando sequência à análise do artigo de Braschler e colaboradores (2025) onde abordamos adaptações e efeitos colaterias da prática de corrida de longa distância como a Maratona, no sistema cardiovascular (Parte 1) , aqui enfatizaremos o sistema respiratório. Mas ainda frisando, como nos últimos textos : A MARATONA NÃO É PARA QUALQUER PESSOA!!
Mas voltando ao trato respiratório, sabemos que a manutenção da corrida por longas distâncias depende principalmente da quantidade de O2 que se consegue captar, absorver e utilizar durante a atividade. A isto da-se o nome de VO2 max, ou seja qual a quantidade máxima de oxigênio que entrou em uma inspiração e que efetivamente fez seu papel dentro das estruturas celulares para o fornecimento de energia. Ma para que isso aconteça é necessário que haja uma melhora de todo este processo de captação, transporte e assimilação do oxigênio.
O orgão principal para que haja esta captação é o pulmão e o treino para a maratona pode aumentar a capacidade do pulmão em captar oxigênio em até 15 vezes comparado à condição de descanso, como descrito pelos autores do texto. Importante destacar que a função pulmonar por ter um descrécimo menor, ou até mesmo ter a sua diminuição inibida, em corredores entre 40 e 75 anos.
Durante a corrida de uma maratona, o sistema respiratório é intensamente desafiado, exigindo uma ventilação e oxigenação adequadas para o máximo desempenho. Corredores recreativos aumentam seu volume ventilatório (V̇E) entre 7 a 8 vezes. Estes corredores demonstram volumes expiratórios forçados (FEV1), capacidade vital forçada (FVC) e capacidade pulmonar total (TLC) significativamente maiores do que pessoas sedentárias. Ao longo do tempo, corredores recreativos que treinam por dois anos observam melhorias em suas capacidades pulmonares, como FVC e FEV1. Até mesmo corredores mais idosos conseguem retardar a diminuição da função pulmonar relacionada à idade. Além disso, pacientes com fibrose cística são capazes de completar maratonas sem efeitos adversos, indicando segurança e possíveis benefícios desse tipo de exercício.
No entanto, o exercício intenso de uma maratona pode causar alterações momentaneamente prejudiciais na função pulmonar. Os autores relatam a existência de diversos estudos sobre a função respiratória após a corrida, muitos dos quais registram uma diminuição na FVC, que geralmente retorna ao normal dentro de 24 horas. A relação FEV1/FVC também apresenta resultados contraditórios, com algumas pesquisas mostrando um aumento e outras não observando mudanças. Algumas investigações sugerem que a obstrução de vias aéreas pequenas pode ser responsável por restrições na função pulmonar após maratonas, embora os resultados ainda estejam em debate.
No que diz respeito aos volumes pulmonares, a maioria dos estudos não encontra mudanças significativas em volumes como TLC e volume residual (RV), embora haja relatos de aumentos temporários no pós-maratonas, que se normalizam após 24 horas. A capacidade de difusão para monóxido de carbono (DLCO) indica uma redução em alguns casos após a corrida, sugerindo um possível edema pulmonar subclínico, mas esses valores também se normalizam dentro de um dia.
Outro desafio enfrentado pelos corredores de maratona, além das mudanças no volume pulmonar, é a fadiga dos músculos respiratórios, uma condição semelhante à fadiga dos músculos das pernas após uma maratona. A força tanto dos músculos inspiratórios quanto expiratórios fica comprometida quando comparada à capacidade inicial.
O problema de asma em corredores de maratona é prevalente, apesar dos efeitos positivos do treinamento de resistência sobre os volumes pulmonares e a capacidade de resposta das vias aéreas. Corredores de resistência apresentam uma prevalência de asma entre 4,3% e 24,8%. Hipóteses sugerem que a hiperventilação durante a corrida leva a um ressecamento e resfriamento das vias aéreas, induzindo inflamação leve e broncoconstrição. A inalação de maiores quantidades de alérgenos e irritantes durante hiperventilação pode também promover sintomas asmáticos. Maratonas em grandes cidades, onde a qualidade do ar varia, aumentam a deposição de partículas inaláveis nos trilhos respiratórios, situação mais evidente em atletas recreativos do que nos de elite. A prevalência de alergias é também mais alta entre esses atletas, o que pode aumentar o risco de asma em até 42 vezes.
Para concluir, o treinamento e a corrida de maratonas oferecem tanto benefícios quanto riscos para o trato respiratório. Exercícios físicos regulares como o treinamento para maratona parecem melhorar a função pulmonar e prevenir a deterioração devido ao declínio relacionado à idade. Por outro lado, observações indicam que funções pulmonares ficam reduzidas temporariamente após uma maratona, devido a uma combinação de obstrução, restrição e fadiga muscular. Aparentemente, corredores de maratona possuem risco aumentado de desenvolver asma, alergias e doenças atópicas.
Referência Bibliográfica:
Braschler, L., Nikolaidis, P.T., Thuany, M. et al. Physiology and Pathophysiology of Marathon Running: A narrative Review. Sports Med - Open 11, 10 (2025). https://doi.org/10.1186/s40798-025-00810-3