A FADIGA AUMENTA O IMPACTO AO CORRER?
Existe alguma forma de se proteger de um eventual aumento de impacto por conta da fadiga?
A corrida é uma atividade física incrivelmente popular, praticada por milhões de pessoas em todo o mundo, e que traz um fervor em sua prática em alguns corredores. No entanto, essa paixão pode vir com um preço: o risco de lesões. A fadiga muscular, uma companheira constante de muitos corredores, tem sido apontada como um fator que pode alterar a forma como corremos e, consequentemente, aumentar o impacto sobre nossas articulações. Mas como exatamente a fadiga afeta a mecânica da corrida e o que podemos fazer para nos proteger?
O estudo de Pirscoveanu e colaboradores (2020) investigou essa questão crucial, mergulhando no impacto da corrida na condição em fadiga. Os pesquisadores recrutaram um grupo de 17 corredores recreativos e os submeteram a um protocolo de fadiga em esteira. Antes e depois desse desafio, os cientistas analisaram cuidadosamente os sons de impacto produzidos pelos corredores, bem como as forças de reação do solo – as forças que o chão exerce sobre o corpo durante a corrida.
Os resultados revelaram um padrão interessante. Corredores fadigados tendem a produzir sons de impacto maiores durante a corrida. Embora as forças de impacto em si (medidas pelas taxas de carga vertical, VILR e VALR) não tenham aumentado de forma estatisticamente significativa, a tendência de alta foi clara. Além disso, o estudo encontrou uma forte correlação entre as mudanças no som do impacto e as forças de reação do solo. Em outras palavras, quanto maior o aumento no som do impacto, maior a probabilidade de um aumento nas forças que atuam sobre o corpo.
Essa conexão intrigante entre a elevação da intensidade do som do impacto e das forças que atuam sobre o corpo demonstram mudanças nas forças de reação do solo. Isso significa que, em média, quanto maior o aumento no som do impacto após a fadiga, maior a probabilidade de um aumento nas forças que o corpo tentará suportar. Essa relação sugere que o som do impacto pode servir como um indicador útil da carga que estamos colocando em nossas articulações e tecidos durante a corrida.
Mas o que isso significa na prática? A fadiga pode levar a mudanças sutis na forma como o pé atinge o solo. Talvez, com o cansaço, não consigamos mais manter a mesma técnica, permitindo que o calcanhar bata com mais força no chão. Esse aumento no impacto pode sobrecarregar as articulações e outros tecidos, elevando o risco de lesões por estresse, como fraturas por estresse, tendinites e fascite plantar. Com essas informações, os corredores poderiam ajustar sua técnica ou intensidade para reduzir o impacto e minimizar o risco de lesões.
É importante ressaltar que o estudo foi conduzido em um ambiente controlado, em somente um tipo de piso e com um tipo específico de calçado. Isso significa que os resultados podem não ser diretamente aplicáveis a todas as situações de corrida. No entanto, eles fornecem insights valiosos sobre como a fadiga pode influenciar a mecânica da corrida e aumentar o impacto.
Então, como podemos nos proteger? A chave é estar atento aos sinais de fadiga. Se você perceber que seus passos estão se tornando mais barulhentos, que sua postura está piorando ou que suas passadas estão ficando mais curtas, pode ser hora de diminuir o ritmo ou até mesmo parar. Fortalecimento muscular regular e controle para um descanso adequado também são cruciais para prevenir a fadiga cumuilativa entre treinos e manter uma boa mecânica de corrida.
Em última análise, a mensagem é clara: ouça seu corpo. A fadiga é um sinal de alerta, e ignorá-lo pode ter consequências. Ao prestar atenção aos sinais de cansaço e tomar medidas para reduzir o impacto, você pode desfrutar dos benefícios da corrida por muitos anos, sem colocar suas articulações em risco.
Portanto, da próxima vez que você estiver correndo e sentir a fadiga se aproximando, lembre-se: um pequeno ajuste na técnica ou uma pausa estratégica podem fazer toda a diferença para manter suas articulações saudáveis e permitir que você continue correndo rumo aos seus objetivos.
Referência Bibliográfica:
PIRSCOVEANU, Cristina-Ioana et al. Fatigue-related changes in vertical impact properties during normal and silent running. Journal of Sports Sciences, v. 39, n. 4, p. 421-429, 2021.